Na luta pela audiência e com o conhecimento de que violência, sexo e desgraça humana são os assuntos mais vendidos e vistos no mundo atual, alguns programas da TV baiana vêm se empenhando em colocar cada vez mais cenas assustadoras no ar.
Sei que o mundo não é cor de rosa, que coisas tristes acontecem, mas exibir pessoas com mãos e braços pendurados, corpos em estado de deterioração, mulher fazendo sexo com criança, gente mutilando gente, etc., é uma atitude, no mínimo, irresponsável, praticável por quem realmente não entende nada de comunicação. Essas cenas não acrescentam em nada a informação, apenas aguçam sentimentos ruins naqueles que nada mais desejam que ver alguém que sofra mais que eles mesmos.
Tais programas provam que o compromisso principal é comercial (o dinheiro) e não com o público. Passo um tempão nos bancos acadêmicos, ouvindo os professores sobre o tamanho da nossa responsabilidade sobre o que é veiculado. A importância de usar a comunicação como uma aliada do desenvolvimento social, uma comunicação apoiado na responsabilidade e não somente nos compromissos comerciais. E fico pasma quando vejo esses “profissionaizinhos” fazendo um caminho totalmente inverso ao que os mestres em comunicação pregam.
Será que os professores estão errados ou cochilaram, enquanto o mundo da comunicação baiana passava por sua mudança mais imbecil?
Os preconceitos são mantidos, seja sutil ou explicitamente. O preto, pobre, da periferia é avacalhado em sua forma de falar, portar, vestir, enquanto o rico, branco, com seus advogados de defesa é entrevistado de forma séria e sem humilhações.
O que ta acontecendo é uma verdadeira crise de inconsciência coletiva. Pobres, já sem esperança na política, veneram os apresentadores que se mostram como salvadores, preocupados com a miséria e com a desigualdade social, ancorados por salários altíssimos e pelo desejo de que a situação dessa gente continue na mesma ou pior, pois sabem que o show não pode parar.
Não acho que na TV baiana só deva existir jornais com a cara do Jornal Nacional. Mas é possível fazer um programa jornalístico que trate os assuntos diários (política, economia, violência, esporte, etc.) popularmente, sem caricaturas e aberrações.
O que vejo nesses programas é representação do pobre como ser insensível e burro, justamente em um momento mundial de quebra de paradigmas. Algumas pessoas de classe baixa (principalmente as que possuem o mínimo de senso crítico) devem se sentir ofendidas, invadidas, desrespeitadas. Afinal, antes de ser classe C, D ou E, são pessoas humanas. Sentem e se consternam como qualquer outra pessoa.
Não se espantem se esses programas abrirem um concurso para premiar os vídeos mais grotescos. É! Somos os juizes, não estamos sendo forçados a assisti-los e temos o poder nas mãos: o controle remoto. Porém, evitar que as crianças e os jovens descartem esse tipo de programa é bastante difícil.
E é aí que me ponho a pensar: “que mundo se quer mostrar às crianças e com qual objetivo?”, “o que e quem se quer atingir?”, “que sociedade se quer formar?”.
Que bom que temos outras opções: jornais impressos, o jornal Bahia Meio Dia, da TV Bahia, o TV Revista, da TVE ou simplesmente desligar a TV.
É difícil fazer um curto comentário sobre o assunto, mas bastava defini-los em uma palavra apenas:
LIXO.