domingo, 25 de outubro de 2009

Muito além das aparências.


Nãocomo negar que o corpo (nele inclui-se os cabelos) é uma forma de linguagem. A maneira como nos vestimos ou nos penteamos revela, muitas vezes, um traço da nossa cultura e da nossa própria personalidade. É, também, através da estética que notamos a valorização do negro diante de suas próprias características físicas. Mas analisar os aspectos da conscientização de um povo, apenas avaliando os padrões estéticos é uma visão, no mínimo, superficial.


O
discurso de que para ser negro é preciso ter o cabelo X ou Y caducou. O negro consciente atual ultrapassou essa questão, afinal não podemos mais ser julgados pela nossa aparência.


Certamente muitos negros ainda não estão conscientes de seu papel social, mas nãopara padronizar todas as pessoas, a fim de mostrar que a politização, de fato, existe. Têm pessoas com cabelos “de negro” e que desconhecem alguns fatores simples a respeito do candomblé, das lutas e conquistas dos escravos e da cultura negra. Se o cabelo do negro tem que ser sempre de uma maneira, suprime-se a condição de liberdade. Com o passar do tempo o negro não poderá usar calça jeans e camiseta branca para não se assemelhar a forma de vestir de um branco ou terá que seguir apenas a religião do Candomblé, por exemplo.


Ter a própria corrente de pensamento, sentir-se negro, mas antes de tudo, sentir-se humano. Reverter a condição de escravidão é o grande desafio para a coletividade negra e isso não será conseguido apenas estilizando os cabelos, mas quando o negro conseguir a sua inserção justa na sociedade através da educação.


Pessoas de todas as cores continuam pregando o discurso que prevalece a cor da pele e o tipo de cabelo para identificar se um indivíduo é negro ou não. A questão da negritude é a de sentir-se, identificar-se e assumir-se como negro. Não é a cor da pele, nem o penteado que define se alguém é ou não negro, ou se alguém é menos ou mais negro que outro. É uma questão que envolve coragem e opinião, envolve consciência, reflexão, cultura, intelectualidade, busca aos antepassados, atitude.


Sou
mulher negra, consciente do meu papel social e, antes de tudo, sou livre para decidir sobre o meu corpo. Não sou a imagem diante de vocês, sou um composto de tudo que acredito, isso envolve a minha consciência, a minha capacidade de pensar, a minha essência humana, que infelizmente não pode ser vista, mas pode ser percebida através das minhas atitudes.


Exaltar as nossas características físicas é basilar, mas é preciso que nós negros tenhamos uma consciência madura em relação à educação. É preciso ver mais negros na Política, na Medicina, na Comunicação, na Educação e em várias esferas sociais, que não sejam as mais costumeiras: as cozinhas, os presídios e as sinaleiras. E é a partir dessa mudança que o negro começa a se afastar do papel de vítima social, admitindo sua real consciência, assumindo uma postura muito mais ativa e participativa no processo de transformação da própria realidade e, consequentemente, da história.


E essa
metamorfose não pode ser superficial, não pode ficar no plano das aparências. Ela precisa ser interiorizada, precisa fazer parte da nossa consciência reflexiva, da nossa essência. De nada adiantará afirmar a identidade apenas no aspecto visual, em cortes e penteados de cabelos, e continuar a carregar o estigma de “coitadinho” da história, escravizado e mutilado intelectualmente, sem vez e voz
.

6 comentários:

  1. Aos poucos vou me refazendo
    E volto pra casa,
    Pra família e
    Pra alegria dos amigos.

    Aos poucos tento me recompor
    E compor novas músicas,
    Novas histórias
    E até o velho amor.

    E assim me encontro entre tecidos novos e usados
    Achando uma maneira de combiná-los, de customizá-los...

    Acredito que o futuro só Deus sabe.
    Mas sei que o hoje é de inteira e total responsabilidade nossa.

    Quero viver experimentar, combinar, mas com a certeza de que estou fazendo o melhor pra mim e para todos.
    Posso até em algum momento do futuro me convencer que as tentativas não foram as melhores pra mim,
    Mas quero ter a certeza que para o momento em que vivenciei, foram as melhores, sim.

    Ah! O amor, só vivendo para se descobrir.
    Acredito no amor como pensamento e energia positiva depositada naquilo em que acreditamos, por mais que a esperança seja do tamanhinho da mostarda.
    Se a fé e disposição: que o faça!


    Depois de muito tempo em minha vida, consegui escrever como há muito tempo não fazia.
    Depois da tempestade... Sempre vêm os dias de SOL...
    E assim que me sinto agora: Molhada, vendo o dia de SOL raiar.

    Eu, negra, Cáren Cruz e mulher.

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  2. Cáren,
    Saber que você me acompanha por aqui é uma verdadeira honra.
    Fiquei feliz em ler o seu texto, não conhecia sua veia poética. Não importa o tempo em que demoramos para fazer algo, o importante é realizá-lo com maestria.
    Você é iluminada e cheia de amor, vejo isso através da expressão do seu sorriso e do brilho dos seus olhos.
    Obrigada por sua visita e comentário, aliás comentário não, elixir da vida.
    Bjo. Amo vc!

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  3. Olá Simone, gostei do seu texto.
    O negro precisa tirar o pé da senzala e fazer-se presente, como você mesma disse, em diversas áreas do conhecimento; a mudança acontece de dentro para fora, só a aparência pouco transforma. A revolução é iniciada com os estudos.

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  4. Dias,
    Obrigada pela visita e comentário. Espero que, de fato, nós negros consigamos perceber a importância dessa revolução, nos munindo com nossas canetas e partindo pra luta.

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  5. Obrigada pela visita Aline. Que bom que gostou do texto.
    Volte sempre!!!
    Bjos!!!

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