sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Ética é sempre bom. Na TV, na profissão e na vida.

O assunto da semana ficou por conta das danças da professora Jaqueline Carvalho. A primeira dança aconteceu ao som da banda O Troco, o que rendeu uma postagem no Youtube, acessada por mais de cem mil pessoas, onde a pró protagoniza junto com mais quatro mulheres uma coreografia erótica de deixar qualquer “rala a tcheca no chão” no bolso; já a outra dança foi a consequência da postagem no Youtube, o que resultou na demissão da professora primária, que lecionava Matémática a crianças de cinco anos de idade em uma escola particular de Salvador. O tema ganhou espaço na imprensa local e nacional.

Ontem (dia 28.08), o cantor envolvido na polêmica estava num programa de TV, falando sobre o ocorrido. Apesar de ser um assunto sério, afinal envolve várias questões, estereótipo negativo da mulher, ética profissional, inclusive o gosto das crianças por essas baladinhas
modernas, não consegui entender a postura do cantor e do apresentador.
O apresentador gritava: “Gente, professora agora não pode dançar pagode, não?”. E, ao mesmo tempo, exibia (em close) a imagem da bunda da professorinha no ar.


O cantor superou o apresentador. “A música Todo Enfiado é o grande momento do show, as mulheres imploram para que eu cante. As pessoas vão no pagode para se divertir, vão para esquecer os poblemas. Ela é uma mulher massa, é de família, tem uma filha de sete anos e tinha uma vida estável. Não é justo o que estão fazendo com ela”, defendeu-a. Ele falou de sua composição (uma música pobre, com palavras chulas e duas frases apenas), explicou o sentido do termo “periguete” e transformou a professora em vítima social (talvez até seja mesmo).
Cada um sabe o que faz (se a menina quer rebolar, que rebole), mas, algumas profissões exigem de nós comportamentos éticos ou, no mínimo, cuidadosos tanto em nosso trabalho quanto nos dias de folga. Tem de haver um equilíbrio entre o nosso “eu” profissional e o nosso “eu” pessoal.
Jornalistas, publicitários, comunicólogos, artistas, políticos e professores são exemplos de profissionais que formam opinião pública. Comportamentos que firam os valores da família e da sociedade não podem fazer parte da rotina de um profissional que produz informação ou que tem o seu trabalho visto por uma maioria.
Os professores têm um papel ainda mais importante. Eles não são formadores de opinião, apenas. São ajudantes na construção da formação humana do indivíduo.
Se a pró dançarina está certa ou errada, não sei. Porém, um adulto, com o mínimo de conhecimento, deve saber que vivemos na era da tecnologia e da informação, onde milhares de pessoas se munem de apetrechos tecnológicos, registrando tudo em todos os lugares. Nesse “Big Brother” real, a responsabilidade de cuidar da nossa imagem é inteiramente nossa e ninguém pode fazer isso por nós.
Então, se nos exibimos, se postamos textos e imagens relacionados a nós, se usamos o espaço público e virtual como se fosse o nosso espaço íntimo é porque queremos ser lidos e vistos. Ao menos devemos ter consciência do nosso comportamento, respondendo e nos responsabilizando por nossa exposição pública, quando necessário.
O cantor tem grande responsabilidade nessa celeuma também, pois está se promovendo, enquanto a professora tem sua imagem e vida desgastadas. Afinal, um homem que se propõe a expor mulheres ao ridículo, incitando comportamentos primitivos, não pode sair de bom moço na estória.
A idéia de que ele é homem e tudo pode (“mulher que se dê o valor”) é cultural e difícil de mudar, mas a iniciativa dessa violência surge, primeiramente, deste homem, no momento da composição. Não foi ele que criou esse preconceito, mas é ele quem ajuda a disseminá-lo.

Entretanto, quando provocado, responde que sua música é uma grande brincadeira e que canta para levar alegria aos fãs. Na verdade, ele não se importa com o conteúdo das suas músicas, pensa apenas, em ancorar na vulgarização feminina, sua ascensão e fama.
Pagode, arrocha e vários gêneros musicais que têm força nas grandes massas não me agradam, mas sei também que, muitas bandas de pagode não têm em seu conceito a banalização sexual, como é o caso da Harmonia do Samba, por exemplo.
Estudando Comunicação e, principalmente, Publicidade posso ver que algumas pessoas pensam que vale tudo para vender um produto, um conceito ou uma idéia. Não importa se nessa venda terão que potencializar preconceitos ou ferir os valores sociais e isso, no mínimo, é perigoso e irresponsável.
Não sou hipócrita, sei que muitos professores, médicos, jornalistas, engenheiros, pedreiros, padeiros, políticos e tantos outros profissionais se dividem em trabalhadores sérios e seres comuns, que têm desejos, fantasias, esquisitices, etc. Atualmente, o que mais chama a atenção é a necessidade que as pessoas têm em se expor, principalmente para exaltar suas atitudes sexuais.
Ontem, ao discutir com alguns colegas cheguei a seguinte conclusão: a verdade é que a professora e o cantor estão no país certo. Uma nação que não valoriza quem investe tempo e dinheiro nos estudos, um país de artista que não faz arte, de mulheres famosas por suas lindas nádegas, políticos corruptos que são respeitados e chamados de Vossa Excelência, de gente que acha o máximo uma "celebridade" dizer em rede nacional que nunca leu um livro...
O final dessa novela já se sabe. O normal é que a pró se transforme numa dançarina ou escreva um livro do tipo “Dancei! Literalmente” ou, ao menos, passe uns dias dando entrevista aos programas que sobrevivem da carniça humana.
Quanto à banda, essa vai aparecer muito mais nos Meios de Comunicação, vai ficar mais conhecida, os shows vão bombar, o cachê vai aumentar...
E continuaremos vendo a baixaria reinar, felizes ou infelizes diante do sofá.